Atirada para aquele banco da estação, aguardava, gelada até ao mais profundo de si mesma, o primeiro comboio da manhã.
Os seus olhos fingiam-se fixados nos mosaicos de cor indefinida que preenchiam o chão, mas, na verdade, fitava o vazio, temerosa dos olhares dos que a rodeavam. A sua maquilhagem desbotada, as roupas em desalinho e a camisa meio rasgada desafinavam do vestuário composto de quem ia trabalhar naquela manhã.
Sentia-se observada. Que todos ali conheciam o seu segredo, a loucura momentânea que se apossara dela horas antes.
Fechou os olhos e tentou recordar aquilo que vivera. A chegada atabalhoada ao apartamento, a porta ainda a fechar-se e ela já sem metade da roupa.
À luz do dia, aquele momento que transpirara intensidade parecia-lhe agora aquilo que de facto era: um erro. Porque o tempo, sabe ela bem, não volta atrás, e aquilo que foi não volta a ser, e da mesma forma aquilo que não foi não vai ser só porque sim.
Ali sentadica, envergonhada de quem bocejava por ir trabalhar, sentiu-se suja, nojenta. Um vómito abandonou o seu estômago em busca da saída. Mas conteve-se. Isso seria demasiado fácil.
Entrou pé ante pé na composição que lhe parara à frente e deixou-se cair no lugar mais isolado de todos, depois de percorrer a passerele da vergonha entre os restantes passageiros, que a fitavam com olhares reprovadores, mas sonhadores.
O comboio iniciou a sua marcha, e ela olhou olhou pela janela, fitando um prédio cinzento envolto na neblina daquela manhã cinzenta.
"Não mais volto lá."
quarta-feira, agosto 12, 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário