quinta-feira, dezembro 28, 2006

Baskerville Walsh.

Durante anos ninguém se lembrou que existia. Desde que caíra daquele prédio, mergulhado na mais pura letargia alucinogénica, até se esvair em cinzas, sempre um desprezo do mais puro que existe.
A princípio entristeceu-se, sim. Pensou em adormecer para sempre, fundir-se com o ar e desaparecer com o vento do Norte. Depois chegou quase a habituar-se. Não hábito de não ficar magoado, mas hábito de lhe ser indiferente. Para quê chatear-se? Vivia na margem, e nunca ninguém lhe reconheceria mérito. Mais valia passar a eternidade em descanso e sem sonhar com mundos e fundos inalcançáveis à sua metáfora de pessoa.
Um dia, no entanto, e contra todas as possibilidades, alguém precisou da sua ajuda. Alguém precisou dele. Nem queria acreditar quando F. se aproximou, intrigado, e pegou em si, espalhando-o falsamente naquele sítio. Sentiu-se extasiado. E encontrou finalmente uma razão para ‘viver’. Não que esperasse que mais alguém precisasse de ajuda. Claro que não, era impossível. Mas ao menos já ajudara outrém, marcara uma vida. E isso seria coisa que nunca iria esquecer.

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