domingo, outubro 15, 2006

oh no, what's this?

Subiu a escada a correr e tentou abrir aquela porta, cúmplice de tantas entradas furtivas. Fechada. Em vão a abanou com todas as suas forças. Tomou balanço e atirou com a porta casa adentro, sem dó nem piedade. Correu pelo apartamento, os seus passos soando almariados no soalho de madeira. Empurrou com estrépito e abateu-se de súbito. A cama. Vazia.
Gritou. Esperneou. Voltou a gritar. Bateu com fúria os punhos no chão, magoou-se. Depois deixou-se ficar, gemendo a sua mágoa, naquele sítio que vira os seus momentos de glória e êxtase. Nunca mais.

Foi então que, num ronco suspirado, acordou, encharcado no seu próprio suor. Repirava ruidosamente. Olhou para o lado, e descansou a sua aflição. Ela estava ali, repousando suavemente, respirando sem ruído.
Levantou-se e caminhou com leveza até à varanda. Respirou o ar da noite, acalmou-se e espirrou no silêncio do Largo. Voltou então para dentro, fechando cuidadosamente a janela. Subiu para a larga cama e aninhou-se. Depois abraçou-a.
Ela mexeu-se lentamente, encostou-se. E ele chorou, lágrimas a cair-lhe quatro a quatro pela cara rugosa.
É horrível termos o que queremos.
"Porque é aí que temos alguma coisa para perder", e soprou, amedrontado.

2 comentários:

Anónimo disse...

:)

Cate disse...

gostei :)