domingo, maio 28, 2006

Mariana's past.

O Planeta de Mariana, algures em 2003:

"A Janela


Pois cá estou eu, numa aula qualquer. Oiço alguém a falar, deve ser o professor. Mas eu não o vejo. Além de estar escondido atrás de uma colega, não quero vê-lo, nem sequer ouvi-lo. Se já estou em estado de sonolência, ao ouvir o que alguém despeja friamente cairia num sono profundo do qual só acordaria com um tremor de terra (e mesmo assim...).
Olho então para o lado. E que vejo? A minha eterna amiga, grande e transparente, e lascada também. Meio aberta (por causa do cheiro moribundo da sala), ela deixa entrar um pouco de sol, filtrado pelos estores a meia haste. Pois, é a janela, que deixa contemplar o que há lá fora, e fez sonhar todos os que neste lugar já pousaram o caderno.
A vista não é muita. Um telhado, uma escola cor-de-rosa, uma fila de prédios decadentes, um outro lá mais ao fundo, isolado em toda a sua altura. Algumas árvores rasteiras e vazias de folhas compõem o ramalhete.
É certo que a vista não é muita, mas o certo é que dá para o gasto. Ao olhar através dela, e se tivermos a sorte de estar bom tempo, vemos, acima de qualquer coisa, luz.
Luz. Mas não é uma luz qualquer. Não senhor. É uma luz libertadora, que provoca o sonho. Ao recebermos este feixe intenso, fechamos os olhos e imaginamos que estamos noutro sítio. Qualquer sítio, não interessa, mas um que nos faça sentir bem, sem preocupações, leves e livres como uma folha acastanhada que voa ao sabor do vento.
O único problema desta luz é que pode provocar um indesejado encontro com o professor. Se ele se lembra que existimos, lá caímos das nuvens, e com um grande trambolhão percebemos que o nosso nome foi espancado... na caderneta.
Mas, se tivermos sorte, a aula passa num instante e, quando toca, parece que passou apenas um minuto desde que fomos iluminados pela luz libertadora.

11º4 nº6"

Quando Mariana manda escrever, escreve-se. Nem que seja merda!

1 comentário:

Catarina disse...

vós reinais, não reinais? beijinhos disarmados